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Meia Canção Desesperada

Meditação
20/03/2020
Não Importa
20/03/2020
 

MEIA CANÇÃO DESESPERADA


Nasci um dia para a o mundo, e já sabia,
que dias mais, dias menos, eu te encontraria.

Era a missão, o reconhecimento, e a plena angústia
de saber que tu já eras carne, e estavas esperando-me.
Mas, onde eu podia procurar-te, neste vasto mundo?
Lancei meu amor
farejando em cada esquina do universo,
imaginando que tu perceberias,
que esse amor era teu, te pertencia.

... Planejamos tudo há tanto tempo,
na eternidade desencarnada de nossa infinita vida !

E o tempo foi passando, e a angústia corroía
meu frágil peito de humanidade insana, mais eu sabia
que tu também irradiarias teu amor ao meu encontro.

Como um radar meu coração abriu-se grande
e receptou as ondas que, espalhadas pelo mundo,
destino certo tinham. O ânimo voltara à minha vida,
e parti como um possesso a teu encalço, largando tudo.

Quando te vi, meu coração deu um pulo;
a outro te entregaras.
Não esperastes por mim ! - mas não te culpo.
Foram muitos anos de espera ... mas ao fim, juntos.
A semente que lancei frutificara em galhos e rebentos
pelos filhos, que a lei de predestinação determinara.
Com certeza, o meu amor tocara tua virginal pureza
antes da concepção humana, e os frutos de teu ventre
já estavam, espiritualmente, por mim, contaminados.

Custou um breve tempo, acostumar o novo desafio
à realidade cruel da convivência,
pois eu cobrava a pressa que antanho possuías,
que não deixou esperar por mim,
e em teu regaço, meu frágil corpo espiritual
não pôde descansar um dia.

E tu cobravas de mim a solidão,a angústia
existencial agigantada pelos anos de busca do meio-ser
que completaria a vida
que o destino teimava em ocultar-me,
como num jogo de esconde-esconde,
sem vencedores nem vencidos.
Nada disso importa agora. Te encontrei e é o que basta.
Estamos juntos para sempre,
irradiando amor a quem precisa,
reciclando a eternidade e apreendendo a dar
o que nos foi legado em outro plano.
Frutificando em carne, suaves maravilhas
que um dia escolheram conviver em nossa companhia,
e que de tanto amor e tanta poesia,
crescerão fortes, almas puras,
indômitos espíritos de ternura infinita,
os quais levarão adiante a missão divina
de transformar o nosso mundo,
de triste realidade em inimaginável alegria.

E os que virão por sua graça, frutos de nossos frutos,
rebentos espiritualizados pelo amor que consome,
em nosso divino jardim, cultivados,
imaculados pela chama do eterno vir-a-ser,
da inefável permanência em nossas vidas.

Faço-te um apelo, canção desesperada, já que sei cantar
com a música da alma, e digo sem mistérios
palavras que desde o fundo do meu ser
crescem a cada instante
-guiadas pela divina mão do Criador -,
que nunca penses que a intenção que move meu agir
está contaminada com o espúrio sentir egoísta
e avaro da realização individual,
mas sim, te juro, com a pureza de espírito
de quem à vida deve tudo, e a ela se devota.

A carne é fraca, e a alma inconsequente.
A mente joga sujo muitas vezes,
e nos perdemos tentando compreendê-la.
Mas a intenção subjacente que nasce no âmago do ser,
é expressão autêntica do espírito interior,
da essência divina que há em nós.

Por isso, companheira, eterna namorada,
aceita que o nosso destino está marcado;
amarrados pelos fios de prata da vontade divina,
pertencemos um ao outro pela eternidade toda,
e se em algum momento parecesse o contrário,
é ilusão, é falsa fantasia,
tolas mentiras criadas pela vil anti-vida.

Não te iludas pelos cantos de sereia
que o mundo nos impõe todo dia.
Não te deixes vencer pela ideia falsa,
aparência enganadora da compreensível miséria humana.

Vejo-te sempre despida da carne,
espírito imaculado, pura energia.

Se às vezes meu ser exulta,
é por que sinto que compreendes
que nossa união transcende as fronteiras do humano.

Se outras vezes, me sinto deprimido,
é por culpa da mente que teima em mostrar-te humana de mais,
jogo do destino que cruelmente pretende separar-nos
pelas regras cegas do livre arbítrio.

Amada companheira, não desistas.
Há um tempo e um lugar
onde a vida é sutil demais para permitir
carregar o peso do corpo.

Nele é tudo permitido, pois a mácula da ofensa
não fere o sentimento,
não obnubila à razão nem entristece a alma.

É possível alcançá-lo agora,
mesmo que já exista na memória do tempo,
da mesma forma que a árvore
já existe na memória da semente.

É possível vivenciá-lo agora,
mesmo que o grosseiro corpo se interponha no caminho,
e a emoção efêmera de algum momento de mágica
alegria possa evidenciar o contrário, aos olhos da alma.

Esse lugar é nosso, meu amor; devemos encontrá-lo.
Junto à fonte sagrada dos mistérios, junto a Deus.
Eu afirmo, minha amada, junto a Deus e seu séquito de
anjos, que esperam que o homem se despoje da vil
humanidade, não na morte -como dizem os bárbaros
que levantam a bandeira da anti-vida-,
mas na independência sutil do dia a dia,
onde prevalece a essência imanifestada
por sobre a manifestação grosseira.
Minha amiga, amada, companheira ...,
não abandones a missão que um dia
prometeras cumprir junto a mim, na eternidade.
Se a memória falha, ou se o acaso afasta de teus olhos
o quadro que pacientemente desenhamos na tela da
vida, no momento eterno anterior a nosso atual estado,
não te desesperes ..., o tempo só é importante
enquanto é vivido.
Mas nós, meu anjo, temos toda a eternidade pela frente.
Eu te aguardo, estendo minhas mãos para guiar-te
na escuridão, no caos, neste mundo ou onde for.

Não esqueças que ao final, sopro de minha vida,
juntos para sempre, seremos deuses junto a Deus,
no eterno vir-a-ser da forma-sem-forma
onde se confunde e se mescla o amor divino, com nossos seres.

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