(POEMA EM DOIS ATOS)
I
Corpo de mulher, espírito imortal,
trina essência de vida, alma pura,
silhueta etérea de formosura tal,
que o meu carente coração segura.
Se livre fosse, meu indômito ser,
no castiço cárcere da tua alma
que aquece suave, qual mágico poder,
buscaria, o calor, o amor, a calma.
Mas preso sou, eterno agradecido,
pela dádiva divina de teus braços,
que me oferecem teu ser e a morada,
com infinito amor engrandecido,
marca indelével, sublimes traços,
que de mim te tornam altiva namorada.
II
Corpo de mulher, brancas colinas,
tomo emprestado o início, frase muda,
dita dantes pela boca de Neruda,
em seu primeiro canto de amor, sem rimas.
Lembrando como eras no último outono,
no sexto canto da magnífica obra prima,
meu corpo se derrete, o espírito aproxima
meu carente coração que já tem dono.
E assim, ébrio de beijos, como no nono
poema Nerudiano do cântico geral,
continuo à espera da próxima copa
que induza meu pobre ser ao sono,
definitiva, derradeira e total
a indelével sutileza de tua boca.